Entrevistas










E agora, Ivan?

O que te leva a fazer filmes?
Quando eu fiz uma cine-entrevista com o Nelson Gonçalves, fiquei pedindo que ele cantasse cada um dos sucessos do Adelino Moreira que tinha gravado. Teve um momento em que achei que estava exagerando e pedi desculpas, mas ele disse que não se incomodava: “Eu canto essas músicas porque adoro elas!”, e me mostrou o braço para que eu visse como ele ficava arrepiado. É isso, eu faço cinema porque eu sou apaixonado por esses filmes. Tanto é que não mudei de gênero e me sinto muito bem assim.

Seus filmes do terrir sempre assumem um tom de paródia. Como anda o ambiente para isso?
Está ficando cada vez mais difícil. Com a cultura do “politicamente correto”, parece que não tem espaço para nada que não seja careta. Recentemente, eu estava expondo na galeria Paparazzi, em São Paulo, umas fotos que fiz em 1979 do Hélio Oiticica chupando o cano de um revólver. Essas fotos circularam o mundo, mas na Paulicéia Desvairada foram censuradas... Estou escrevendo uma carta ao prefeito Kassab para ele me explicar o porquê. A galeria estava expondo as fotos em outdoors. Acontece que ao lado dela tem uma escola pública e a sua diretora disse numa reportagem que "aquilo não era arte". Ela telefonou para o Secretário de Educação, que resolveu, sem saber do que se tratava, interditar a exposição. Não entenderam que o Hélio fez uma tradução metassemântica, ou até "matassemântica", porque ele transformou o revólver em bala... Não é melhor usar um revólver para chupar do que para matar?

E você não está com novos trabalhos em andamento?
O cinema é um dos meus vícios, a fotografia é outro. Como eu sou viciado nestas coisas, tenho vários projetos em curso, como o Dracula's Club, que é o meu preferido, por ser uma historia de vampiras. Tenho outros projetos,também, como As xifópagas no cio! Um filme divertido, em que essas irmãs xifópagas transam juntas, fazem swing... Mas quem vai topar patrocinar um filme com xifópagas, ainda mais no cio? Tenho ainda outro projeto, O Estrangulador de Mulatas. Todos são filmes com grande apelo popular, mas atualmente até “mulata” é um nome proibido. Agora que os globetes invadiram a nossa praia, o único negócio a fazer é o que eles não podem: radicalizar, submergindo novamente para o underground. Até para escapar deste estado policialesco que estamos vivendo, em plena democracia. Eu tenho grande facilidade para filmar, ainda mais com essas câmeras de vídeo Hi-8, que são muito parecidas com as de Super-8 que eu usava no inicio da minha carreira. Estou desenvolvendo sozinho uma série de filmes abstratos - já fiz mais de dez, com resultados surpreendentes. Eu saio à noite, quando está chovendo, deixo a câmera com foco automático apontada para o vidro do carro, com as “luzes da cidade” escorrendo pelo pára-brisa sem acionar o limpador e saio fazendo travellings incríveis. Eu sinto que isso tem a ver com o meus curtas experimentais, que às vezes ficam eclipsados pelo terrir. Hoje eles circulam bastante no exterior. Em 2007, houve uma exposição dedicada ao Oiticica na Tate Modern, em Londres, onde exibiram os meus filmes sobre ele. No mesmo andar tinha outra exposição, sobre “Salvador Dali e o Cinema”, onde também estavam passando Un Chien Andalou, L’Âge d'Or, Spellbound... Que outro diretor tupiniquim projetou seus filmes junto com os do Buñuel e do Hitchcock?
Como você vê o esquema atual para fazer e exibir filmes?
Olha, eu estou cansado desta farsa toda. Esse negócio que se chama de cinema brasileiro, pelo qual lutei quarenta anos da minha vida, só existe ainda por causa dessas leis de incentivo fiscal. Falar em cinema brasileiro já é uma coisa meia anacrônica, nacionalista, em torno dessa ideia fajuta de nação. É um jogo sujo com cartas marcadas. Não é a relação com o público que permite que sejam feitos filmes milionários, sempre produzidos pelas mesmas pessoas. Hoje em dia, posso me dar ao luxo de me dedicar mais à fotografia, porque meus trabalhos se valorizaram bastante no mercado de arte. Como sou moço, eu posso esperar os marajás que controlam a nossa Roliudi morrerem para voltar a filmar. Macabro, não é?


Faróis

- Gilda
O Zé Lino Grünewald dizia que o filme bem-montado é aquele que te faz dormir tranquilamente, enquanto o filme mal-montado atrapalha o sono. Esses filmes americanos antigos eram tão bem feitos, com bons castings, que eles faziam a gente acreditar em tudo. Podiam mostrar até a Roma antiga com os atores falando em inglês que a gente acreditava. Vou dar uma de colonizado (ou globalizado): cinema tem que ser falado em inglês. Com a Rita Hayworth, então...

- Uma aventura na Martinica
Para mim, é melhor que Casablanca. Humphrey Bogart é o ator que eu mais gosto, e esse é com a Lauren Bacall, que depois virou sua esposa. E ainda tem o Walter Brennan numa inesquecível interpretação: “Você já foi mordido por uma abelha morta?”

- O túmulo vazio (The Body Snatcher)
O Boris Karloff é o cara, não é mesmo? Não tem ninguém que se compare. Nesse filme ele é um ladrão de cadáveres. Esse é um tabu - houve um tempo em que os cientistas precisavam fazer isso para pesquisar. E nesse filme o Karloff faz um cocheiro que nas horas vagas, rouba cadáveres para um médico. É produzido pelo genial Val Lewton.

- Sangue de Pantera (Cat People)
Outro filme do Val Lewton. Quem gosta de filme noir poderia dizer que esse filme foi um sonho que aconteceu no escurinho do cinema.

- A ilha do dr. Moreau (Island of Lost Souls)
Mais um do Val Lewton. É impressionante como uma fita P/B, dos anos trinta, com apenas 57 minutos de duração, tenha me marcado a ponto de poder afirmar que Um Lobisomem na Amazônia é a continuação dela. Aliás, o Paul Naschy me disse que só aceitou vir ao Brasil para não perder a chance de encarnar o diabólico Dr.Moreau.

- Acossado
O Godard foi o grande subversivo da história do cinema. Ele revolucionou e acabou com tudo, decretando a morte do cinema. Foi a partir de fitas como essa que eu comecei a gostar de cinema, e isso foi bom, porque eu comecei a gostar a partir da desconstrução. Foi ele que quebrou todas as regras, podia ter câmera balançando, cortar sem continuidade, o ator olhar para a lente – liberou geral, mas ele fazia isso com sofisticação. E o Belmondo não é o Nuno Leal Maia, mas é sensacional!

- Psicose
Uma verdadeira aula de cinema, que me deixa em pânico do primeiro ao último minuto. Talvez seja ainda mais moderno que Acossado.

- A marca da maldade
Com o espetacular plano-sequência de dez minutos abrindo o filme. Diz a lenda que nele Welles teria gasto mais da metade do seu orçamento. É melhor até que Cidadão Kane.

- O homem que matou o facínora
Certa vez, perguntaram ao Orson Welles quais eram os três maiores diretores da historia do cinema, e o gênio respondeu: “John Ford, John Ford & John Ford”.

- O grande golpe (The killing)
É impossível ter a pretensão de fazer uma lista dos “Dez Melhores Filmes”. Mas de uma coisa você pode estar certo: Stanley Kubrick não estará fora dela.

Um bônus:
- O bandido da luz vermelha
Esse é um raro filme brasileiro que é americano. É bem filmado e montado pra cacete, os atores são sensacionais. É uma tristeza, o cinema brasileiro matou o Sganzerla. E por quê? Porque ele era o melhor de todos, um cara desses só surge a cada cem anos.


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É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...



É praticamente impossivel porque, infelizmente, os curta metragens brasileiros não tem a menor chance no nosso problematico mercado cinematografico. Aliás, é quase impossivel, em nosso país, um cineasta profissional que (não sendo "banqueiro", publicitario ou funcionario da rede Globo), consiga sobreviver dedicando-se, apenas, a produzir seus filmes, sejam eles curtas, longas ou média metragens... Por isso mesmo, a maioria dos nossos diretores (sejam eles, ainda "autores", comerciais, ou até, experimentais), só pensam, em produzir longa metragens...

Porque, nesta categoria, as verbas publicas e os premios dos concursos oficiais são mais atraentes, as leis de incentivo permitem captar mais recursos, a divulgação da sua obra & consequentemente, do seu nome é muito maior, e, ainda por cima, se tem alguma chance de ganhar alguma coisa com a exibição do seu produto, em qualquer mercado, ou, midia.

Eu não vejo maiores problemas do curta metragem ter se transformado, no Brasil, em trampolim para fazer um longa... Inclusive, eu acho bacana, essa coisa do curta ser uma etapa transitoria, uma etapa de transformação artistica, que não seja uma coisa definitiva, cristalizada e necrozada de criatividade. Que ele seja apenas um veiculo para a apreendizagem e desenvolvimento da linguagem cinematografica. O lado mais negativo do curta metragem - por esta categoria, no terceiro mundo, ser eternamente tutelada por velhos artistas frustrados esquerdofrenicos, geralmente, pessoas burras, mesquinhas, invejosas & totalmente, desprovidas de talento - é o aprendiz de cineasta, ao inves de se transformar num diretor de cinema, se transformar num produtor de verdadeiros colchões mentais (filmes que, adormecem os espectadores) , produzindo obras perdidas no tempo & no espaço, comprometidas com ideais politicos & esteticos anacronicos que, ao inves de aproveitarem este formato para experimentarem novas formas de expressão artistica, se transforman desde cedo, em artistas academicos que, enxergam o cinema como forma de trazerem as telas um mundo, por assim dizer, de ilusões perdidas anti cinematograficas... Devido a sua total ignorancia, eles, nem conseguem perceber que o uso que fazem da revolucionaria setima arte é transforma-la, na realidade, numa forma de arte inferior que, serve apenas, para ser um veiculo fajuto de suas ideias falidas, de representações reacionarias da realidade, ou, que ainda lutam por subjulgar o cinema ao teatro... Ou, o que é pior, ainda, ao inves de transformarem os apreendizes de cineastas, em diretores de cinema, se tranformam em "documentaristas"..., uma categoria que, nem, na antiga União Sovietica existia, mas que, aqui, faz muito sucesso ! Haja visto o veterano stalinista catolico Eduardo Coutinho ser considerado, até hoje, pela turma do "Piaui" o maior documentarista brasileiro... Quando, na realidade, nos primordios do cinema novo, quando se fazia cinema com uma camera na mão & uma idéia na cabeça..., só faziam "documentario" os cineastas que, não tinham o menor talento !






Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?



Mesmo sem ser um pesquisador desta area, eu não tenho vergonha de dizer que, eu não

conheço a fundo toda a historia do nosso cinema e sempre fiz questão de deixar claro que, não gosto deste conceito de "cinema brasileiro"... Até, mesmo porque os personagens de terror com os quais trabalho: múmias, vampiros, escorpiões & lobisomens, não são personagens brasileiros,

são personagens universais, são ícones do cinema americano, com o qual, eu tenho muito mais ligações, influencias, enfim, eu me interesso muito mais pelo cinema americano, do que, pelo nosso esquerdofrenico, literario & teatral cinema brasileiro... Ao contrario do Paulo Emilio, eu acho que o pior cineasta americano é muito melhor que, o melhor cineasta tupiniquim... Mesmo, antes da globalização, eu já era um artista global ! E, sempre achei essa coisa nacionalista, essa busca de raizes, esse ufanismo que sempre existiu em nossa cultura, uma coisa meio facista... Aliás, se voces prestarem atenção, os militares, os padres, os comunistas, os petistas & os facistas teem uma ideologia muito parecida, teem muita coisa em comum... Mas, acredito que a grande importancia do curta metragem seja a possibilidade que ele oferece, por ter um custo muito menor que o de um longa metragem, dos jovens cineastas apreenderem, na pratica, a fazerem cinema ! Como a maioria dos nossos cineastas é autodidata, são artistas intuitivos que, nunca estudaram cinema - as faculdades de cinema são recentes em nosso país -, o curta metragem se tornou a grande escola do cinema brasileiro... Agora, tudo isso é muito problematico, porque sendo um pais muito pobre, as chances de voce "queimar" negativo, de voce experimentar, de voce se exercitar são muito pequenas... E, não podendo errar, voce também, não pode acertar ! O cinema brasileiro devido ao nosso subdesenvolvimento intelectual e artisticio é super preconceituoso, não é só o curta metragem que sofre esse preconceito... No Brasil, como em todos os países artrasados as pessoas só querem filmar em 35mm e, com uma camera 35mm, nem o Orson Welles, ou, o Hitchcock teriam apreendido a filmar... As cameras 35mm são muito pesadas e muito profissionais para quem esta aprendendo, para quem esta começando. Eu posso falar isso de cadeira, porque apreendi a fazer cinema com uma camera super 8 que, eu acredito que seja a melhor bitola para voce começar filmar... Não só pelo baixo custo dos filmes super 8, como também por serem cameras pequenas, super leves e tecnologicamente muito avançadas que, democratizaram a atividade cinematografica no final dos anos 60. Na verdade o super 8 foi um pré vídeo, as cameras super 8 anteciparam essa revolução que as cameras de vídeo fizeram apartir dos anos 90.Qualquer dona de casa podia filmar as festinhas de aniversario dos seus filhos, batizados, casamentos, etc. O super 8 é genial porque voce tem a chance de apreender a fazer cinema sem mestre, voce apreende, como diria o Mojica, "praticamente, na pratica"... Mas, aqui, as pessoas tinham preconceito, até, do 16mm...

Aliás, aqueles festivais de cinema amador, 16mm, patrocinados pelo Jornal do Brasil/Mesbla, foram super importantes para o cinema brasileiro porque, não só ajudaram a diminuir esse preconceito como também lançaram vários cineastas importantes, como o proprio Rogerio Sganzerla, o Neville d'Almeida, o Sergio Santeiro, o Haroldo Marinho Barbosa, o Andrea Tonacci, o Bruno Barreto & muitos outros .

Agora, por outro lado como a maioria dos nossos curta metragens são documentarios e até, os filmes de ficção com o passar dos anos também se transformam em documentarios da epoca em que foram feitos, os curta metragens nacionais acabam se transformando num fabuloso banco de imagem preservando muitas vezes, a memoria de grandes artistas que, infelizmente, neste país sem memoria, não tiveram a sua incrível trajetória devidamente registrada em nossa desmemoriada, elitista, esquerdofrenica & preconceituosa cultura



Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?



O curta metragem me fascina por varios motivos: primeiro, devido ao seu baixo custo. Talvez, por seu formato reduzido, o curta ainda seja um filme livre das leis de incentivo, ainda seja uma obra que possa ser produzida livremente pelo seu proprio autor... Dai, ele também ser um divisor de aguas: somente, os verdadeiros artistas é que investem o seu proprio capital para realizarem os seus sonhos ! Por permitir que voce produza um filme a fundo perdido, sem as terríveis consequencias financeiras que, voce sofrerá, caso o seu longa metragem seja um tremendo fracasso de bilheteria, acredito que os curta metragens sejam a categoria ideal para a produção de filmes de arte ou experimentais ! Até mesmo, porque eu acho um equivoco, quase ridiculo voce fazer um filme experimental com a mesma duração, bitola & caracteristicas de um filme comercial... E, olha que muitas vezes os filmes experimentais ainda são maiores que, os comerciais ! E, por isso mesmo, o grande poublico acaba tomando horror desses filmes que, sempre foram imprescindiveis para o desenvolvimento da linguagem cinematografica.

Além disso, a entrada em cena dos vertiginosos video clips trouxeram as telas um tipo de linguagem fragmentada, com uma ritimo alucinante de cortes não lineares, que aboliu todas as regras einsteinianas de montagem, criando uma nova forma & formato compacto, com uma duração médiua de 3 minutos que, provocaram uma verdadeira revolução audio visual, transformando os kilometricos longa metragens em obras jurrasicas... O camarada, realmente, tem de ter alguma coisa diferente para mostrar para dizer para conseguir manter alguem sentado durante 90 minutos... Ou, então como dizia o saudoso poeta & critico José Lino Grunewald, um classico é aquele filme tão bom que, voce pode dormir tranquilamente durante 90/100 minutos, no escurinho do cinema !



O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?



Em primeiro lugar, eu gostaria de deixar claro que, no Brasil, existem poucos, cineastas que, realmente são diretores de cinema... Aliás, depois da morte do Glauber, do Walter Hugo Khouri, do Carlos Hugo Christiesen, do Jean Garett, do Leon Hirzmann, do Carlos Imperial, do Jece Valadão, do Nilo Machado & do grande Rogerio Sganzerla, voce terá de contar nos dedos quais são os verdadeiros cineastas que, ainda existem por aqui... O resto é uma manada de idiotas, de falsos artistas, de mulheres feias mal amadas, de comunistas aposentados, de publicitarios de sucesso, de ambiciosos fotografos da "moda", de milionarios culpados porque são ricos & de alpinistas sociais que, desconhecendo totalmente o seu oficio e consequentemente a tradição cinematografica, só entendem o que, eles pensam ser o cinema como filmes de longa metragem... Então, eu acho que é super natural que, esses elementos que, não tem a menor intimidade com o que fazem, tenham preconceito contra o curta metragem... Eles tem horror de tudo que é menor... Por ter uma duração menor que um longa metragem, eles se equivocam, pensando que um curta é tão pequeno quanto o seu talento, ou,o tamanho do seu pau... Na verdade, eles tem medo do curta metragem por que nesta categoria minimalista, compacta, se constata imediatamente, em poucos minutos, a sua total falta de talento !



Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?



A exibição de qualquer filme brasileiro é um verdadeiro cipoal de problemas, a dos curta metragens então, nem se fala. Nos anos 70, nos tivemos uma experiencia inusitada com a inesquecivel Lei de Obrigatoriedade de exibição de curta metragens nacionais, na frente dos filmes longa metragens estrangeiros... Uma Lei que, a principio parecia ser otima e caso tivesse dado certo teria sem duvida nenhuma revolucionado e democratizado a nossa combalida

industria cinematografica. Por que, além de garantir a exibição dos nossos curtas em todos os cinemas do territorio brasileiro, tornou a sua produção extremamente lucrativa & industrial. Cada produtora tinha o direito de produzir cinco filmes por ano e só com a receita da bilheteria - se não me engano, nos tinhamos direito a 5% da bilheteria do longa metragem estrangeiro, até, atingir um determinado teto -, qualquer pequena produtora podia, em pouco tempo, caminhar com as suas proprias pernas, produzindo mais cinco curtas, no proximo ano, mais cinco, no outro, até transformar-se numa verdadeira produtora independente, capaz de num periodo de tres, quatro anos, ter recursos proprios para voos mais altos, produzindo seus primeiros longas, ou, aprimorando sua produção de curtas. Infelizmente, tanto as distribuidoras americanas, como os exibidores nacionais que, nunca esconderam seu descaso contra os nossos curtas e o seu odio profundo contra mais esta Lei de Obrigatoriedade, que, na pratica, realmente diminuia uma pequena fração dos seus gigantescos lucros, logo encontram uma maneira eficaz de boicoitar a Lei, exibindo somente um lixo produzidos por eles mesmo ou comprados de produtores inescrupulosos, que vendiam por qualquer preço as coisas mais horriveis que, já chegaram as nossas telas... Numa manobra suja, mas, de grande eficiencia que, rapidamente, não só desmoralizou a Lei como jogou, mais uma vez, os proprios espectadores e a critica contra o cinema nacional: eles chegavam ao requinte de programar curtas pavorosos, totalmente

inadequados aos longa metragens americanos que, o publico havia comprado ingressos para ver e quando, começava a projeção dos nossos malditos shorts era uma vai danada ! Entretanto, nos devemos ser pragmaticos, não se esquecendo que, mesmo durante a pavorosa ditadura militar, ninguem gostava de assistir um filme por causa de uma Lei de Obrigatoriedade..., que,

assim como Ministerio da Cultura foi inventada, nos anos 30, pelo carismatico lider facista Benito Mussolini ! - que, naquela epoca desfrutava de uma popularidade, entre os italianos, bem maior que a de Lula, nos temebrosos dias de hoje...

Acho que, tanto para os longas como para os curta metragens nacionais, a única saida´para a circulação e exibição dos nossos filmes é a televisão ! Sendo, um verdadeiro absurdo que, mesmo durante "o melhor governo (esquerdofrenico) que este país, já teve", a nossa televisão continue sendo a casa do cinema americano...






O curta-metragem é o grande movimento do cinema atual?



Não existe mais nenhum grande movimento no cinema atual, nem no curta, nem no longa, nem nas outras artes ! Assim como não existem mais grandes lideres, também não existem mais grandes artistas... A arte não é um continente isolado que, esta imune a realidade dos nossos dias... Chegamos ao seculo XXI sem que o biblico apocalipse incendiasse o nosso decadente planeta, como muitos profetas anunciaram durante seculos... E, o que é pior e torna a nossa existencia, ainda mais monotona: os misteriosos ovinis, os populares disco voadores desapareceram, até, da mídia: os sinistros marcianos não invadiram a Terra ! E, assim como tudo, o cinema também acabou... Não se faz mais filmes como antigamente. Não existem mais cinemas - os grandes templos cinematograficos foram transformados em templos evangelicos... - como antigamente. Tirando dois ou tres dinossauros que ainda existem por aí, não existem mais grandes diretores como antigamente. Como não existem mais poetas, filosofos, cantores, musicos, escritores, magicos, dançarinos, toureiros, assassinos, gangsters, jogadores de futebol, pilotos, artistas plasticos, atores, fotografos, produtores, lutadores de box, inventores, cientistas malucos, aviadores & até, mesmo astronautas como antigamente. E, o que é pior não existem mais estrelas capazes de seduzirem multidões de espectadores para o escurinho do cinema !!!

Como nos ensina, o mega poeta Augusto de Campos, em seu visionario CD "Poesia é risco": "para que poetas, em tempo de pobreza"... Ou, no prefacio do seu indispensavel livro invenção, "Verso, Reverso, Controverso": "a poesia é uma familia de naufragos bracejando, no tempo e no espaço"...

Talvez, o iluminado Stockhausem estivesse certo e a queda das torres gemeas, em Manhattan, tenha sido a nossa ultima grande obra de arte... Assunto proibido que, virou tabu, para que o grande publico não descubra que, os autores desta sinistra obra prima foram os irrados agentes da CIA... A morte de Michelangelo Antonioni aumentou, ainda mais o nosso deserto de ideias, levando no seu vacuo, o velho Igmar Bermann que, há muitos anos vivia escondido em sua ilha.

Restando, agora, somente o subversivo demonio das onze horas Jean Luc Godard que, ao lado do incansavel Bob Dylan, talvez sejam os dois maiores artistas contemporaneos, ainda vivos ! Não podendo nos esquecer de alguns outros pontos luminosos que, ainda brilham na escuridão das trevas, como o surpreendente Quentin Tarrantino, o mafioso Francis Ford Coppola, o demencial João Gilberto & o quase centenário Claude Levi Strauss !



Pensa em dirigir um curta futuramente?
Cada diretor, cada artista tem o seu processo de criação, de produção e, é essa individualidade, esse universo proprio, essa marca original que, o distingue da maioria dos artesões, dos artistas burocraticos, ou dos falsos artistas que, só sabem diluir o que os outros inventaram... Hoje, voce fala em artista e as pessoas pensam, logo, que voce esta falando dos atores da tv Globo..., embora existam alguns atores da Globo que, podem ser considerados grandes artistas ! Eu, de certa forma, me considero uma pessoa predestinada, porque tive o privilegio de, ainda muito jovem, com menos de 18, conhecer, conviver & me tornar parceiro dos nossos maiores artistas de vanguarda ! Gente, como os irmãos Campos, Décio Pignatari, Helio Oiticica, Torquato Neto, Caetano Veloso, Rogerio Sganzerla, Julio Bressane, Tim Maia, Raul Seixas, Zé do Caixão & muitos outros.
Para que voces tenham um ideia do que estou falando, na maioria dos curta metragens que dirigi & produzi, eu procurei fazer um pequeno "paideuma" reunindo & homenageando alguns artistas inventores, cujo trabalho, em diferentes areas, poderia ser classificado como "divisor de aguas" !
Então, por exemplo, nos tres filmes que fiz sobre o Hélio Oiticica "HO", em 1979, "A Meia Noite com Glauber", em 1997, um dialago subversivo entre a "estetica da fome X a estetica da vontade de comer"... que, revelou & liberou um lado desconhecido & proibido da obra do inventor do cinema novo e "Heliorama", em 2004, todos estes curtametragens, além do depoimento do proprio Oiticica, contam com textos poeticos, ou cine roteiros - como ele proprio os classificou - do grande Haroldo de Campos ! Sendo que, no "HO", este texto original foi narrado pelo irado Décio Pignatari, com a sua inconfundivel voz & imbativel dicção concreta... O Décio também foi o autor de um texto brilhante sobre o Zé do Caixão, comparando-o à um "Antonio Conselheiro de suburbio que, fez de Canudos o seu cinema"..., escrito especialmente para "O Universo de Mojica Marins", em 1977, e
além disso foi quem me levou para Porto Alegre, em 1978, onde documentamos com a sua interferencia critica um dos mais brilhantes & desconhecidos escritores brasileiros, o ex deputado & psiquiatra gaucho Dyonélio Machado, o velho"centauro dos pampas" ! E, no final dos anos 90, ao ouvir o CD "Poesia é Risco" de Augusto de Campos - cuja a foto da capa é de minha autoria -, percebi que, tinha em meus arquivos imagens suficientes para "clipar" os seus visionarios "cinepoemaspopcretos"... E, resolvi fazer o instigante curta "HI FI" , homenageando o Augusto ! Ou seja, eu sou o único cineasta brasileiro que desenvolveu junto aos nossos mais brilhantes poetas contemporaneos, uma produção literaria inédita, por que eles proprios nunca tinham escrito para cinema e que, ainda, não foi devidamente estudada, ou, classificada. A minha parceria com o Oiticica, também, foi inédita por que além dos filmes que fiz sobre a sua obra, ele também foi ator de "O Segredo da Múmia", fazendo o papel de um mercador egipcio, e de "Dr.Dyonélio", onde interpretou um senador romano !
Dizem que, a primeira impressão é a que fica.... De forma que, tendo me infiltrado no cinema brasileiro atraves do demencial Rogerio Sganzerla, me acostumei, desde cedo, a fazer varias coisas ao mesmo tempo, a produzir varios filmes simultaneamente que, devido as suas caracteristicas ou verba de produção, ficam prontos dentro de um prazo normal, ou, se tornam obras in progress que, as vezes acabam sendo finalizadas muitos anos depois do seu inicio... Eu chego, até, a dizer brincando que caso nunca mais consiga filmar, eu ainda teria filmes para montar, até, o final dos meus dias... O que, felizmente, não é verdade porque, no final do seculo passado eu comprei uma pequena camera de vídeo high eight & descobri que ela era uma versão aperfeiçoada da minha velha camera super 8... Então, as curvas do destino me levaram, novamente, ao inicio de tudo... E, o meu velho vício de registrar imagens, voltou com força total & já produzi mais de 50 filmecos experimentais em vídeo, ainda não finalizados ! Mas, voltando aos curtas, aos documentarios filmados em pelicula 16 mm que, até, já foram ampliados para 35 mm, mas, ainda não foram definitivamente montados, eu tenho uma joia rara intitulada "A BRASA DO NORTE" , um cine clipe com o endiabrado Jackson do Pandeiro, filmado em 1977... Um "trailer" fake sobre o livro espetacular de Georges Battaile, "A HISTORIA DO OLHO", também de 77, estrelado pela apetitosa Claudia Ohana ! Neste mesmo ano, também rodei outro "trailer" porno, em parceria com o meu amigo Eduardo Viveiros de Castro, intitulado "CURIOSIDADES DE VIDAS IRREGULARES"... Dei inicio ao longa udigrudi, "O LAGO MALDITO" que, foi o filme que deu origem ao "Segredo da Múmia" (1982) e recentemente, ao telefilme "O Sarcofago Macabro"
(2006) e que, um dia, ainda, pretendo concluir seu projeto original... Também, neste periodo dei inicio a um dos projetos mais sensacionais da minha carreira e pelo qual tenho um grande carinho, chamado "A HISTORIA DE UM OLHO" que, iniciei em 1973, filmando as filmagens de "O Rei do Baralho", do Julio Bressane - nesta epoca, agente nem desconfiava o que era um makingof... Então, eu chamava estes documentarios que, inicialmente, ainda foram rodados em super 8, de filmes de filmagens... -, que prosseguiram em 1975, com "O Monstro Caraiba" estrelado pelo saudoso Carlos Imperial, também do Julinho. Depois, continuei este projeto em 16 mm, documentando "A Agonia", 1977, & o antologico "Gigante da America", 1978, ambos de Bressane. Ainda, neste mesmo ano, eu rodei "O TERCEIRO OLHO", registrando as demenciais filmagens de "O Abismo" do Rogerio Sganzerla que, é um curta metragem que, ´também já foi ampliado para 35 mm & pretendo finalizar, no proximo ano. Estando em duvida de trocar seu titulo para "O MELHOR DE TODOS", num trocadilho com "A Mulher de Todos" & por acreditar mesmo que o Rogério foi o nosso maior cineasta ! Nesta linha de documentarios - se é curta, media , longa, ou, telefilme, isso realmente não me importa - ainda, gostaria de acresentar mais alguns projetos queridos: "O ABC DO AMOR", uma cinentrevistas com os jurrasicos TIM MAIA, NELSON GONÇALVES & BENE NUNES que, iniciei, em 1993; "AS MEMORIAS DE UM HOMBRE LOBO", outra cinentrevista que , realizei em 2005, durante as filmagens de "Um Lobiosomem na Amazonia" com o grande icone do cinema de terror, o ator espanhol PAUL NASCHY ! Outro documentario que iniciei no festival de Turim de 2006, entrevistando o surpreendente diretor norte americano JOE SARNO... E, outro tesouro que o destino me reservou , por ser a ultima entrevista - & filmada em mini dv - do inesquecivel mega poeta HAROLDO DE CAMPOS, realizada em 2004, quinze dias antes da sua morte, intitulado "AS CONFISSÕES DE UM POETA" !!!
Ou seja, eu não sou nenhum Raul Seixas, mas também tenho o meu "baú"...
Me arrependo amargamente, de não ter feito em parceria com o Eliseu Visconti, um documentario sobre o magistral LUPICINIO RODRIGUES que, é, até hoje, o meu compositor preferido... E, outros tres curtas que, infelizmente, não tive recursos para realizar, documentando outros gigantescos ícones da nossa cultura: o polemico comentarista esportivo botafoguense João "sem medo" Saldanha;
"DA-LHE RIGONI", focalizando o grande joquei paranaense Luiz Rigoni & finalmente, outra corda do meu coração que era o fantastico campeão do circuito da Gavea, CHICO LANDI, o grande pioneiro do nosso automobilismo !
Atualmente, estou pensando em fazer um documentario sobre o incrível, fantástico & extraordinário desenhista de historias em quadrinhos, o lendario SHIMAMOTO. Também, continuo desenvolvendo outro filme experimental, desenhado na propria pelicula 35 mm, intitulado "O CREPUSCULO DO OLHAR" um esforçado exercicio de "decomposição da imagem"... Que, na verdade, também, não deixa de ser um protesto - ao inves de manifestar verbalmente minhas criticas ao governo Lula, eu preferi riscar artisticamente pontas de negativo -contra a ultrapassada politica audio visual cubana orquestrada, muito mal interpretada & sucedida pelo sorumbatico ex ministro Gilberto Gil... Eu conheci o GG, atraves do TorquatoNeto, na decada de setenta, fiz a fotografia da capa do lp "umbandaum" e sempre fui seu fã... Há tres anos atrás, quando nos encontramos durante o Festrio, contei-lhe sobre a "ultima entrevista" do Haroldo & manifestei o meu interesse de transformar este precioso material num filme... Voces sabem o que o ministro me respondeu com o seu debochado sotaque baiano: "Apresente, o projeto" !
Ora, meus amigos é por essas & outras que, seguidamente, eu penso em abandonar o cinema... Qualquer idiota desconhecido que, se aproximasse do pior ministro da cultura que, a França já teve & lhe revelasse que tinha eu seu poder a ultima entrevista do Jacques Derrida, do Foucault, ou, do Roland Barthes... No dia seguinte uns dez funcionarios do ministerio da cultura frances estariam atras deste sujeito para cuidar & lapidar com todo carinho esta inusitada pedra preciosa !!!
E, o que me deixou, ainda, mais triste foi a frieza do Gilberto Gil que, além de dever muito intelectualmente falando ao Haroldo, seguramente, jamais teria sido ministro se o Augusto de Campos não tivesse tido a generosidade de escrever o "Balanço da Bossa" !
Mais, é isso aí pessoal, a vida como ela é..., é assim mesmo ! No Brasil, infelizmente, artista bom é o artista morto... Aquele abraço !!!


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Para o jornal O Tempo


1) Um perfil na Coleção Aplauso, a volta de "O Segredo da Múmia" ao Festival de Brasília em cópia de preservação, três filmes prontos ("Um Lobisomem na Amazônia", "A Marca do Terrir", "O Sarcófago Macabro").
Pergunto: Como você define essa efervescência de trabalhos e referências nos quais está envolvido?
Devido a minha (de)formação udigrudi, desde cedo, eu apreendi com o Hélio Oiticica a ser um artista multi disiplinar e não respeitar o cinema, a fotografia e as artes plasticas como categorias estanques, uma vez que, utilizo todas elas como veiculos, como linguagens do meu trabalho que, se concretiza penetrando por todas as brechas que, eu consiga driblar a censura estetica vigente,,, Como me criei, no underground, fazendo filmes SUPER 8, quanto mais obstaculos colocarem no meu caminho, mais forte será o meu trabalho e melhor a minha arte. Na realidade, há 40 anos que, sou censurado e perseguido pela esquerda e pela direita, a ponto de ter brincado com o presidente Fernando Henrique que, eu merecia receber duas aposentadorias dessas que, os exilados politicos recebem... Até, mesmo porque todo mundo sabe que, os verdadeiros exilados foram os que, como eu, ficaram aqui, sem direito a ter acesso aos veiculos de comunicação que, pudessem exibir o meu trabalho... Pelo contrario, em 1972, quando o Carlos Vergara me convidou para participar da sua "Exposição", no Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, os meus filmes SUPER 8 tiveram a sua exibição proibida pelo embaixador Walter Moreira Salles que, naquela epoca, era o presidente do MAM... Além disso, neste mesmo periodo os meus filmes foram duramente condenados pelos coronéis do cinema novo... Alías, é triste lembrar que, durante a ditadura os artistas de vanguarda foram mais perseguidos pela esquerda do que pela ditadura militar ! Mais tarde, com a abertura, nos também passamos a ter acesso aos financiamentos da Embrafilme e assim, eu pude fazer "O Segredo da Múmia" & "As Sete Vampiras" que, alcançou mais de hum milhão de espectadores ! Então, eu tive a oportunidade de fazer "O Escorpião Escarlate" com um pouco de mais recursos: além da grana da Embra o filme contava com o apoio de um grupo de empresarios paulistas que, me permitiram contratar, além da Andrea Beltrão, do Nuno Leal Maia e do Léo Jaime, a Monique Evans que, esta espetacular como Mme Ming, o Herson Capri que, encarnou com perfeição o "Anjo", a Isadora Ribeiro que, naquela altura era uma mulher para 400 talheres, a escultural Josi Campos, o Mario Gomes e até, a endiabrada Roberta Close que, por incrivel que pareça, naquela epoca era a "mulher" mais cobiçada do Brasil... O filme tinha todos os ingredientes para repetir a dose de "As Sete Vampiras" e arrastar, novamente, mais de hum milhão de espectadores para o escurinho dos cinemas... Mas infelizmente, "O Escorpião" ficou pronto, justamente, quando aquele presidente que, gostava muito de cheirar cocaina, o Fernando Collor, foi eleito e fechou a Embrafilme... Resultado o nosso filme mais caro e bem produzido ficou na prateleira, causando um prejuizo incalculavel para a minha produtora, a Topázio Filmes. Mais tarde, no governo Itamar Franco, quando fizeram o tal "resgate", qualquer produtor com o meu curriculo que, havia inventado um novo genero, em nossa combalida cinematografia: o "terrir" !, conquistado mais de 50 premios em festivais nacionais e internacionais, feito hum milhão de espectadores e tivesse tido o prejuizo que, tivemos, graças a insania de um governo amaldiçoado como o collorido..., teria sido obrigatoriamente "resgatado", nos estavamos concorrendo com um projeto, ainda, mais forte, comercialmente falando: "Naiara, a Filha de Dracula" ! Mas, os rancorosos coroneis do cinema novo resolveram me castigar, novamente, e deixando de lado qualquer parametro - até, o Pedro Rovai & outros produtores colloridos foram agraciados com um novo financiamento -,fui um dos poucos cineastas que, não foi "resgatado" pelos jurados que, receberam as cartas marcadas pelo secretario Miguel Farias Junior... E, apartir daí passei a ser o único cineasta censurado no país, inclusive, durante o governo do meu primo Fernando Henrique Cardoso, quando só consegui realizar um curta metragem produzido pela Riofilmes, mesmo assim, por ser um projeto envolvendo o Glauber Rocha, o premiado internacionalmente, "A meia noite com Glauber" ! A injustiça foi tão gritante que, o Haroldo de Campos se ofereceu para escrever uma carta ao FHC, relatando este estranho caso de censura estética... Mas, o castigo que me impuseram foi tão grande, covarde e injusto que, depois de um certo momento começou a haver o que o governador Leonel Brizola - o ultimo grande politico que tivemos - chamava de "efeito bumerangue"... A injustiça foi tão grande que, começou a valorizar incrivelmente o meu passe... Por que a luz da historia o que vale mais: um cineasta chapa branca ou um artista censurado ??? Então, de repente no finalzinho do governo Fernando Henrique, eu fui aquinhoado com um financiamento da BR para realizar "Um Lobisomem na Amazonia", ganhei um concurso de telefilmes da Secretaria do Audiovisual com o "Sarcofago Macabro" e o embaixador Arnaldo Carrilho, então presidente da Riofilme, também resolveu me "resgatar" liberando uma pequena verba para que eu pudesse terminar "A Marca do Terrir", filme sumula que salvou da destruição os principais filmes SUPER 8, da antologica serie "QUOTIDIANAS KODAKS" que, dirigi e produzi, no inicio dos anos 70 ! E, como sou um dos poucos cineastas veteranos que, ainda gosta de fazer curta metragem, o meu ultimo projeto sobre o Oiticica, intitulado "Heliorama" também foi um dos vencedores do concurso da Petrobras, para este tipo de filmes !
Quanto a copia de preservação que o CPCB fez de "O Segredo da Múmia", eu agradeço muito a corajosa iniciativa da Myrna & do Carlos Brandão, mas, infelizmente a verba que eles dispunham permitiu que, fizessem apenas uma copia 35mm, nova, deste grande classico do cinema brasileiro que, ao meu ver, merecia um pouquinho mais do que um simples "master de pobre" que é, o que é, uma copia de preservação... Porque, enquanto isso grande parte dos meus filmes continuam apodrecendo... Na verdade, tanto a "Mumia", como os documentarios sobre o "Moreira da Silva", de 1974, "O Universo de Mojica Marins" - o telefilme que, na verdade, resgatou o cinema do Zé do Caixão -, 1977,
o documentario que fiz, em 1978, sobre o Dyonélio Machado e até mesmo, o valorizado "HO", de 1979, sobre o Helio Oiticica, precisam ser urgentemente restaurados, porque o desaparecimento desta imagens raras e unicas sea um crime delesa a nossa cultura, mas, sinceramente, não acredito que o ministro Juca Ferreira, nem os barnabés petitas que, deveriam zelar pela nossa desfigurada memoria cultural estejam se importando com isso... Na realidade, para eles, eu sou apenas um primo do FHC que, deve ser tratado a pão & agua ! Alías, o livro espetacular do Remier Lion, "Ivan Cardoso: o Mestre do Terrir" é o melhor exemplo disso: este projeto, jamais seria editado no Rio de Janeiro que, é o meu estado e muito menos pelo Minc... Somente o grande Rubens Ewald Filho, a quem agradeço muito, e o governador José Serra, nosso candidato a presidencia da republica, tiveram a coragem e o bom senso para edita-lo !
Mas, tudo isso, inclusive o excelente lançamento em dvd, que a Cinemateca Brasileira & a Programadora Brasil fizeram de "AS Sete Vampiras", é apenas uma ponta deste iceberg chamado "Ivan Cardoso"... Apartir do final do seculo passado, começaram a fazer uma serie de retrospectivas da minha obra, em festivais internacionais de cinema fantastico - até na Finlandia & na Coreia, eu fui premiado ! -, e como disse no inicio, eu tive tempo e passei a me dedicar a outras areas do meu trabalho: editei alguns livros, entre os quais "De Godard à Zé do Caixão" que é uma especie de amostra, de catalago do meu arquivo fotografico que reune mais de 70 mil negativos !, realizei aqui e no exterior, uma serie de exposições, reunindo além das minhas fotografias, as minhas fotomontagens, colagens e outros trabalhos na area das artes plasticas, participando de mostras importantes, como a Bienal de São Paulo de 2006 e a minha retrospectiva "Fotoivangrafias", no MAM, além de continuar participando de uma serie de exposições que, correm o mundo, mostrando a obra "inclassificavel" do meu grande amigo & mestre Helio Oiticica ! Inclusive, uma na Tate Modern, em Londres, um dos museus mais importantes do mundo, onde o Helio dividiu um andar inteiro conm um tal de Salvador Dali... De forma que, neste mesmo andar, de um lado passam os classicos "Chien Andalou", "L'aje d'or" que, Dalí fez com Bunuel e do outro o cine teatro nô "HO", de um tal de Ivan Cardoso !!! Quer dizer, qual é o outro cineasta nacional cujos filmes estão sendo projetados no mesmo nivel que os cclassicos de Dalí & Bunuel ?

Isso, para não falarmos da extensa produção de vídeos que, também iniciei no final dos anos 90, aproveitando o meu know how de superoitista, são mais de 50 videos experimentais que, caso, eu tivesse um minimo de condições mudariam a face do paralitico audio visual brasileiro...
2) 2008 marca um ano ruim pro cinema no Brasil, com queda de quase quatro milhoes de espectadores em relação ao ano passado. O que você acha que vem motivando esse afastamento do público?
O publico não é otário, ele paga para assistir um filme... De forma que, ele chegou a triste conclusão que, para assistir esses filmes sem vergonhas, que andam por aí, copiando a televisão..., é mais barato ficar em casa e assistir a Tv Globo... Não há sentido de voce pagar ingresso para assistir um espetaculo, em todos os sentidos, pior do que, o que voce assiste gratuitamente na teve... O cinema brasileiro sempre foi um verdadeiro
cipoal de problemas, só que, atualmente, a coisa se tornou um escandalo, um escarnio, um sinonimo de mau gosto: os verdadeiros cineastas, os profissionais desta area que, há 30, 40 ou 50 anos, se dedicaram exclusivamente a setima arte foram banidos das telas e o nosso espaço foi ocupado por uma casta de globetes, de publicitarios bem sucedidos, de fotografos oportunistas e de cineastas banqueiros que, jamais deveriam ter acesso aos incentivos fiscais, mas que acabaram ficando com tudo e, como não são deste meio, não sabem falar a linguagem cinematografica, o final não poderia ser diferente do que estamos assistindo: as salas ficaram vazias. São cineastas niopes que produzem fitas leprosas...
Não há o menor sentido de voce sair de casa para assistir um filme do Daniel Filho, do Shelton Mello, do Jorge Fernando, do Miguel Falabella ou do Matheus Nastergate (sei lá como se escreve o nome deste desgraçado)... Eles podem ser otimos atores, mas, sem duvida nenhuma são péssimos diretores de cinema, ou melhor, eles nem descofiam o que seja cinema... É uma loucura, um diretor de teve bem sucedido como o Guel Arraes que, dirige mini series que são vistas por 30/40 milhões de tele espectadores tenha a "tara" de dirigir filmes que, na melhor das hipoteses, irá se comunicar com 2/3 milhões de espectadores, quer dizer, é um retrocesso total, uma coisa de maluco... Seria a mesma coisa que, o Michael Schumaker abandonasse a formula um para correr de carrinho de rolimã... Outro dia, eu li no Globo, é claro, uma entrevista conjunta do Shelton com o Matheus, incensando um outro globete que é a grande revelação destes filmes, sua grande contribuição é ser uma especie de Camila Amado que, dirige os atores para esses pseudos cineastas... Quer dizer, o maximo que eles conseguem enxergar é o cinema como uma especie de sucursal do teatro, o que é um outro tremendo absurdo... Essa ideia de que o cinema é a soma de todas as artes é outro equivoco, de quem, não entende nada de cinema ! Tanto é que nesta mesma materia eles glorificavam a dramaturgia de suas fitas, no pior sentido possivel, como se o "drama" fosse uma linguagem cinematografica... Pior do que isso, é só mesmo voce ser filho do Miguerl Arraes e empregado do Roberto Marinho !
Para mim, artista que recebe um salario mensal..., não é artista ! Não que, eu ainda viva numa epoca romantica e acredite que, todos os artistas tenham de ser malditos, ou, tenham de sofrer para desenvolver o seu talento, pelo contrario, eu fazia cinema para ganhar dinheiro & quando falam em cultura, eu puxo logo o meu talão de cheques... mas,
por outro lado, sou um discipulo do grande poeta norte americano E.E.Cummingans: prefiro ser um homem que, "não tem renda, do que estar a venda"... Voce, já imaginou o Quentim Tarantino, ou, o Tim Burton, todo, o mes indo receber o seu salario, a sua bolsa familia, no Jardim Botanico ???
3) O cinema de gênero seria uma saída para o cinema brasileiro voltar a atrair público?
A esta altura do campeonato é dificil voce dizer, qual seria a solução do cinema brasileiro... O nosso cinema, embora, onze, entre dez pesquisadores que, chegam a cinemateca brasileira, ou a cinemateca do mam, só queiram informações sobre o cinema novo..., já foi uma cinematografia bastante diversificada. Os proprios filmes de cangaceiro na verdade era filmes de western à nordestina ! Nos tinhamos um leque bastante variado de comédias, musicais, policiais, pornochanchadas, filmes politicos, romanticos, enfim, até, filmes experimentais nos já tivemos. Mas, tenho a certeza que, o pior genero produzido pela nossa roliudi tupiniquim se chama: cinema brasileiro ! Isso, se transformou num rotulo nacionalista, esquerdofrenico, xenofago. Não existe mais espaço para este tipo de manifestação cultural, na era da Internet... Nem na Ucrania,ou, no Casaquistão. É por essas e outras que, cada vez eu me interesso menos pelo cinema brasileiro... Eu, me interesso pelo cinema fantastico e pelo cinema de terror, independente do seu pais de origem... Arte, não tem carteira de identidade ! Não há o menor sentido de voce produzir filmes falados em portugues - um idioma regional que, apenas o Brasil, Angola, Moçambique, Portugal & algumas ilhas compreendem - quando, o ingles é a lingua dos computadores, é a linguagem oficial do mundo globalizado ! Na verdade, o cinema brasileiro se transformou num "genero" ruim de cinema... É aquela velha piado do Rogerio Sganzerla: "defender as pessoas é facil, mas os filmes" ???
A primeira medida para salvar o nosso cinema, seria a negação de todos esses filmes que estão sendo produzidos atualmente. Elas são obras sem salvação, não servem para nada.
Creio que, uma das outras soluções seria acabar com os incentivos fiscais... Assim, só as pessoas que, realmente, acreditassem nos seus scripts, no seu oficio teriam a coragem de apostar o seu proprio dinheiro, no seu projeto... Sonhar com a produção paga pelo estado é muito facil, mas, na maioria das vezes acaba se produzindo um pesadelo para os espectadores... A melhor definição sobre essa crise financeira que esta deixando o mundo de pernas para o ar, é a de que, ela é uma revolução que, nos artistas e intelectuais não tivemos a coragem de fazer... O dinheiro facil acabou... E, sendo assim os incentivos fiscais também deverão acabar e as drogas serão, finalmente, legalizadas: não existe mais dinheiro para se ficar enxugando o gelo..., alem disso, cada individuo atras das grades custa uma fortuna´para a sociedade... O sonho acabou, mas, a realidade vai ultrapassar anos luz a fantasia do seculo passado. Ninguem aguenta mais o Ferreira Gullar balançando a sua grisalice sabida ! Só a Folha de S.Paulo que, infelizmente, é o jornal que, leio !!!
4) O novo Mojica, "Encarnação do Demônio", foi um fracasso retumbante no circuito comercial. Você o assistiu? O que achou? Qual sua opinião sobre o mau desempenho do filme?
Eu ainda acredito que o Mojica seja um dos maiores artistas brasileiros vivos ! Ele transcende o cinema. Ele é o nosso Salvador Daqui !!! Ele seria milionario se tivesse nascido na Europa ou nos EUA. Mas, teve a infelicidade de nascer na Mooca... O Mojica perdeu o bonde da historia, nos anos 70, quando deveria ter seguido a sua principal virtude: o Zé é um pregador nato, ou melhor, como exemplarmente definiu o Décio Pignatari, no texto do meu documentario "O Universo de Mojica Marins": "um Antonio Conselheiro de suburbio que, fez do cinema o seu Canudos" ! Ele teria ficado milionario se, naquela ocasião tivesse se tornado pastor evangelico de qualquer uma dessas seitas que assaltam o nosso povo... O filme dele é genial, porque o Mojica é genial ! Ele é autor de pelo menos uns cinco filmes que, sem duvida nenhuma estarão sempre, entre os melhores já produzidos na historia do cinema. Mas, infelizmente, ele é brasileiro e não desiste nunca... Aliás, se voce reparar bem o Lula & o Mojica são iguaisinhos... Se eu fosse o Fabio Barreto, aparava as unhas do Zé e colocava o Mojica, no papel do nosso presidente, em sua super produção... Taí, o Zé do Caixão no papel do Luis Inacio Lula da Silva poderia dar samba...
Mas, voltando a sua pergunta sobre "A Encarnação do Demonio" é que todo mundo perdeu a direção no cinema brasileiro. Ninguem sabe mais nada. Os Gullanes por exemplo: devem ser pessoas maravilhosas, mas estão totalmente equivocadas... Aliás, com um fisico daqueles, eu preferia ser galã ! - e, olha que, eu não sou gay... Há uns cinco anos atrás, quando eu conheci o Fabiano, no Festival de Gramado, eu perguntei quais eram os filmes que, eles estavam produzindo e tive a sinceridade de lhe dizer que, com aqueles titulos eles não iriam ganhar, nem um tostão... As vezes, eu penso em abrir uma firma de consultoria, porque, só pelo titulo voce já sabe se o filme vai dar certo, ou, não... Me parece que eles são otimas pessoas, grandes produtores, exelentes captadores, mas, infelizmente, não entendem nada de cinema... E, muito menos do cinema do Zé do Caixão !

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